Leite A2
Dentre os últimos estudos relacionados ao leite, o leite A2 tem ganhado destaque mundial e nacional. Como uma nova alternativa para intolerantes à lactose (aqueles que não produzem enzima lactase suficiente para quebrar a lactose do leite) esse tipo de leite vem surgindo também como viabilidade econômica para produtores e indústrias.
As tecnologias e ciências aplicadas ao assunto ainda encontram-se defasadas, estudos estão em andamento, porém, o produto já está no mercado e é assunto principal em palestras para produtores leiteiros.
Considerando a importância em conhecer sobre o leite A2, elaboramos um resumo do que tem se falado quanto à ele.
Vamos entender?
Como já é de conhecimento comum, o leite e seus derivados são alimentos muito nutritivos, os
quais são compostos de proteínas de alto valor biológico, vitaminas, minerais
(especialmente o cálcio), entre outros micro e macro nutrientes.
O total de
proteínas do leite é composto por dois tipos delas: caseína e o famoso
WheyProtein (proteínas do soro). Ambas possuem todo o espectro de aminoácidos de que precisamos,
sendo que esses são facilmente assimilados pelo organismo. Para entendermos os
dois tipos de leite, temos que focar primeiro na descrição das caseínas.
Cerca de 80% de todo o conteúdo proteico no leite são
caseínas. As caseínas são proteínas (polipeptídeos) formadas por uma cadeia
constituída de 209 aminoácidos. Entre as estruturas orgânicas da caseína,
podemos dividi-las em quatro grandes grupos: alfa S1 (30-46% das
caseínas), alfa S2 (8-11%), beta (25-35%) e kappa (8-15%). Dessas, as
beta-caseínas são dividas em 13 variantes conhecidas: A1, A2, A3, B, C, D, E,
F, H1, H2, I e G. Essas variantes são caracterizadas por diferenças mínimas de
composição dos aminoácidos na cadeia proteica. As formas mais comuns no leite
dos bovinos são as beta-caseínas A1 e A2. Finalmente, chegamos onde queríamos.
A diferença entre as cadeias da A1 e da A2 concentra-se na
posição 67 da ordem de aminoácidos, em um total de 209, como mencionado
anteriormente. Nessa posição, a A1 possui o aminoácido histidina e a A2 possui
a prolina. Os pesquisadores sugerem que entre 5 mil e 10 mil anos atrás, todos
os bovinos produziam um leite com apenas A2 entre as beta-caseínas, mas uma
mutação genética fez com que grande parte da população de algumas raças
passasse a produzir a variação A1. (Lembrando que mutações genéticas são comuns
ao longo dos processos evolucionários e grandes passagens de tempo dentro das
populações de seres vivos). Estudos realizados a partir de 1980 começaram a
relacionar a beta-caseína A1 (´leite tipo A1´) com problemas crônicos em
pessoas predispostas, que incluem diabetes tipo 1, danos cardíacos, transtornos
mentais e outras doenças autoimunes. Além disso, elas também estão
implicadas em diversas alergias, intolerância ao leite e problemas intestinais.
O mecanismo por trás desses supostos problemas residem
na digestão diferenciada entre a A1 e a A2 no nosso intestino. A beta-caseína
A2 não passa por uma hidrolisação enzimática (ou ela ocorre muito lentamente),
produzindo o peptídeo beta-casomorfina-9 (BCM-9). Já a A1 passa pelo processo
de hidrólise, produzindo o peptídeo opioide chamado de beta-casomorfina-7 (
BCM-7). Esse opióide seria o responsável pelos problemas de saúde. Em bebês e
crianças menores de 3 anos, os efeitos da BCM-7 seriam ainda mais danosos, já
que esse peptídeo poderia passar mais facilmente pela barreira entre intestino
e circulação sanguínea, a qual ainda está em formação nessa faixa de idade. Os
estudos que geraram maior impacto de preocupação dentro da saúde pública foram
os conduzidos por pesquisadores na Austrália e na Nova Zelândia entre 2000 e
2003, mostrando uma clara relação entre aumento nas taxas de doenças crônicas e
consumo do leite A1 (mas sem elucidar um mecanismo bioquímico conclusivo de
ação do BCM-7). Isso fez com que ambos os países começassem a investir pesado
em produzir apenas cruzamentos que dessem origem a variações genéticas que
fabricassem o leite A2. Hoje, em ambos os países, o leite A2 é bastante
presente e, provavelmente, o mais consumido.
A INTOLERÂNCIA E O LEITE A2
Existe um
consenso na sociedade e entre profissionais da saúde de que a principal causa
de intolerância ao leite é a produção insuficiente da enzima lactase.
Entretanto, o National Institutes of Health, nos EUA, mostrou que "muitas
pessoas que relatam ser intolerantes à lactose não apresentam nenhuma evidência
de malabsorção de lactose. Sendo assim, é improvável que as causas dos sintomas
gastrointestinais apresentados por elas estejam relacionados à lactose."Como
um mecanismo alternativo, vêm surgindo fortes evidências de que a
beta-casomorfina-7 bovina (BCM-7), derivada das beta-caseínas A1 (proteínas do
leite) esteja relacionada aos quadros de intolerância ao leite.
As beta-caseínas representam,
aproximadamente, 30% do total de proteínas do leite de vaca, e podem estar
presente em duas variantes: A1 ou A2.
No processo digestivo do leite, a ação das enzimas intestinais sobre a
beta-caseína A1 libera o BCM-7, o que não ocorre no processo digestivo da
beta-caseína A2.
A intolerância ao leite é um problema complexo, tanto em relação à saúde
pública, como para o indivíduo intolerante.
Está claro que a mal absorção da lactose (e seus sintomas consequentes) é
um dos elementos da intolerância, mas existem evidências de que outros fatores
podem estar relacionados.
O papel potencial da beta-caseína A1, por meio da BCM-7, vem sendo
investigado desde meados dos anos 2000. Aventou-se, inclusive, a hipótese de
que o BCM-7 poderia estar também envolvido na ocorrência de diabetes tipo 1, doenças
coronárias e desordens do espectro autista. Essa hipótese foi completamente
refutada em uma revisão publicada no European Journal of Clinical Nutrition, em
2005. Mas, a relação do BCM-7 com os quadros de intolerância à lactose parece
ser verdadeira, embora mais estudos sejam necessários para que se tenha uma
comprovação científica. Um fato que conta a favor dessa hipótese é que muitas
pessoas que têm intolerância ao leite de vaca, não apresentam os sintomas
característicos quando consomem leite de cabra ou ovelha, que não contém a
beta-caseína A1, apenas a A2.
A2 Milk
são obtidos de vacas leiteiras que produzem somente o tipo A2 da proteína
beta-caseína, enquanto a maioria dos leites contém os dois tipos, A1 e A2.
Para
entender como o leite A2 se tornou uma sensação no departamento de lácteos, é
necessário voltar cerca de 5.000 anos atrás, quando os cientistas disseram que
uma mutação genética ocorreu nas vacas do norte da Europa e que a proteína A1
começou a aparecer no leite que até então continha somente a proteína A2, disse
o professor da Universidade Lincoln da Nova Zelândia e ocasional consultor do
leite a2, Keith Woodford.
Dentre as raças de bovinos leiteiros,
a Gir parece apresentar a maior ocorrência de alelos A2, que determinam a
presença da beta-caseína A2 no leite produzido por vacas dessa raça.
As
raças mais afetadas pelo ´gene A1` são apenas muito comuns na Europa, EUA e
algumas partes do sul-asiático. A linhagem bovina com essa mutação é nativa da
Europa, e os gados africanos e asiáticos não foram afetados por ela. E outra:
duas raças bem comuns no continente europeu são a Jersey e a Hostein, sendo que
a primeira possui 75% da sua população produzindo o A2 e 25% que produz o A1,
enquanto a segunda é meio a meio (50%). Ou seja, não são todas ´A1´. E,
lembrando novamente, as linhagens com a A1 estão sendo cada vez mais excluídas
do gado;
Aqui no
Brasil, não precisamos nos preocupar muito com isso. Nosso gado é composto, em
sua maior parte, pela raça Gir. A Gir chega a ter quase 100% do seu leite do
tipo A2. E, somando-se a isso, todos os criadores estão tentando também excluir
as linhagens A1, tornando o nosso leite ainda mais puro na variação livre de
suspeitas, impulsionados pela maior valia do mesmo tanto no mercado interno
quanto no internacional.
Produtores de leite brasileiros e
indústrias já começam a se mobilizar no sentido de desenvolver pesquisas para
elucidar melhor os efeitos da beta-caseína A1 e também para selecionar animais
que possuem o alelo A2, ou seja, aqueles que produzirão leite A2, para utilização
em programas de seleção genética e em cruzamentos.
O custo relativamente baixo e a rapidez dos testes feitos no leite, para
detectar a presença de A2, serão aliados fundamentais para a comercilização do
"leite A2", caso sejam comprovados seus benefícios nos quadros de
intolerância.
CONSIDERAÇÕES
Nesse contexto, vale
fazer algumas pontuações:
- Demais estudos deveriam ser realizados para melhores conclusões quanto às reais funcionalidades desse novo tipo de leite e não somente considerar a questão de lucros, visto que, hoje, os produtos discriminados como ´A2´ ganham uma gigantesca vantagem comercial, sendo vendidos como opções mais saudáveis do que o leite tradicional;
- Os tipos A1 e A2 estão restritos mais aos bovinos. Os leites de cabra, ovelha e outros mamíferos, possuem composições diferentes e são tão saudáveis quanto, em alguns casos, o de bovinos;
- Não é necessário ficar sem leite na dieta, você pode continuar bebendo seu leite e consumindo seus derivados (sempre considerando os selos de certificações e indústrias que comumente confia).
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